segunda-feira, 27 de março de 2017

Gordas confiantes: "Que cabras!!"

Começo este post com um título algo irónico. Na realidade sinto-me muitas vezes julgada pela minha confiança. Não que eu seja demasiado confiante, longe disso. Acho que sou confiante na medida certa ainda que entenda que qualquer avaliação que eu faça de mim própria é sujeita de  viés. Talvez para algumas pessoas eu seja demasiado confiante (leia-se convencida) e para outras pessoas pouco (leia-se fraca). Como mulher estou sempre sujeita a estes dois padrões, acho que as mulheres são duplamente julgadas em relação aos homens ainda no mundo de hoje.

Eu sempre me senti um homem com mamas e aparentemente os meus níveis hormonais confirmam isso... Digo isto entre o brincar e o a sério, porque no fundo sinto-me pessoa, sem que queira que o meu género me defina aquilo que posso ou devo querer e atingir, e sem que defina a forma como me devo sentir. A sociedade como mulheres impõe-nos modéstia e humildade em relação às nossas características, nunca devemos sentir-nos bonitas, devemos esperar que os outros achem isso em nós e diz a educação que devemos desvalorizar os elogios, torná-los coisas sem importância, como se não nos dessem o direito de nos orgulharmos por nós mesmas e de sentirmos o nosso valor intrínseco, independentemente do que pensa os que nos rodeiam.

Ainda hoje é suposto as mulheres serem bonitas e penso que embora a sociedade esteja a evoluir somos ainda julgadas pelo peso, pela idade e por um sem número de características que estão associadas àquilo que a sociedade diz que é belo e à maneira como nos condiciona a encaixar nesse padrão, sendo isto especialmente verdade para as mulheres.
No caso dos homens é suposto os homens serem confiantes e são louvados por isso, nas mulheres ser-se confiante é visto como uma característica negativa.

Eu acredito que na vida todas as qualidades têm defeitos associados, e que nisto da confiança talvez eu seja o que a maioria das pessoas acha convencida. Eu acho que tenho uma confiança equilibrada, e que isto  é saúde mental, se eu desse realmente ouvidos a tudo o que a sociedade me diz que deveria sentir... seria mais infeliz,  deveria sair de casa a usar uma "tenda", nunca na vida teria tido um relacionamento e teria desistido há muito de vir a encontrar uma pessoa de quem goste e que goste de mim. Devia contentar me...

Ora eu não penso nada assim. E acho que todos nós devemos pelo menos tentar ser os nossos próprios melhores amigos, devemos levantar-mo-nos todos os dias com a ideia de fazer a diferença no mundo e de mudar as visões, em vez de nos moldarmos a nós para encaixarmos em moldes que não foram feitos param os nossos tamanhos, do XS ao XXXXXXL.

Acho que me encaixo nesse grupo das mulheres confiantes...

Pior! Encaixo no grupo das Gordas Confiantes: Que cabras!!!








terça-feira, 21 de março de 2017

Sexualidade na diferença

Hoje li uma crónica no P3 interessantíssima, é escrita por um rapaz que tem uma deficiência e trata um pouco do corpo dos que são diferentes e de como no fundo são todos os corpos tão iguais nessa diferença. A crónica foca não só o corpo como o tema da sexualidade nos "diferentes". 
Sendo a sexualidade um tema cada vez menos tabu na sociedade continua contudo a sê-lo para os diferentes, seja lá essa diferença a que for, quantas pessoas não ficam desconfortáveis com a ideia de que no fundo somos todos seres sexuais. 

Há um desconforto da sociedade perante a ideia de demonstrações de sexualidade e afecto nos homossexuais em público, eu que sou carinhosa com as pessoas com quem estou imagino como será não se poder sê lo livremente sem ter medo de que me olhem com ódio ou me tratem com maus modos;

Há um desconforto da sociedade perante a ideia de que as pessoas com deficiências são seres sexuais, com atracções e desejos como todos os outros, no fundo o tema da crónica que deu origem a este artigo e que deixo aqui: http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/23130/o-corpo

Há um desconforto da sociedade perante a ideia de que os gordos são sexualmente activos e que têm atracções como todas as pessoas. Uma vez uma pessoa próxima de mim disse-me a respeito de outra pessoa próxima que uma pessoa que queira ter sexo com gordos tem de ter um fetiche qualquer por isso, como se não fossemos nós os gordos, pessoas completas e essa não fosse apenas mais uma dimensão da pessoa que somos. 

Há um desconforto da sociedade perante a ideia de os idosos têm sexo e desejos sexuais, a sexualidade na terceira idade é ainda vista por alguns como se de um desvio se tratasse, basta ver como os lares não estão preparados para esta realidade.


Há ainda um desconforto da sociedade diferente perante a sexualidade feminina e masculina...

Há muitas outras situações destas que causam desconforto na sociedade e nas quais considero que será melhor que causem tanto mais o quanto puderem, até que a sociedade perceba e mude. 

A igualdade é uma idiotice. Não devemos nunca querer ser iguais. Devemos querer ser únicos, diferentes, respeitados e aceites na nossa diferença e individualidade e incentivados a expressá-la.

Deixo aqui também um link dum programa inglês com pessoas com algum tipo de deficiência e a sua procura por amor. Acho-os a todos extremamente inspiradores, se para todos nós o mundo das relações pode parecer algumas vezes um pouco assustador imagino a força destas pessoas que além das dúvidas normais têm todas estas associadas aos seus corpos. São um modelo para todos os nós, mais diferentes ou mais iguais, mas humanos todos nós.


domingo, 12 de março de 2017

Jane Austen um amor para a vida

Os livros da Jane são um dos meus amores antigos, reparem digo amores e não paixões, porque ainda que em algumas etapas me tivessem apaixonado a verdade é que ficaram e penso que se solidificaram até em partes da minha personalidade, como a maioria dos livros que nos impressionam se tornam. Foram os livros da Jane Austen que me tornaram uma pessoa romântica, foi o Principezinho que me fez tão atenta às coisas pequeninas e os livros da Charlotte Brontë fizeram-me saber aceitar a desgraça de forma mais calma sem perder a esperança de ser feliz.

Atenção eu vivo na terra, ocasionalmente subo para as nuvens, mas a verdade é que grandes escritores fazem-nos conhecer partes de nós que talvez não chegássemos a conhecer com essa profundidade se não fossemos obrigados a pensar dessa forma.

Em relação à Jane Austen o meu livro preferido é o Emma, talvez porque a personagem é mais próxima de mim, um bocadito mimada mas com bom coração, alguém que quer ajudar o mundo mas que às vezes tem dificuldade em aceitar perspectivas que não são as suas. 
Para quem não conhece bem os livros eu devo dizer que o que mais me atrai neles é:

- A escrita, todos os livros têm fragmentos em que a prosa é elevada ao nível da perfeição, e as palavras escritas têm o toque luxuoso e confortante do veludo;

- A ideia de a escolha ser da mulher e da mulher como pessoa que pode resistir pelo valor da decisão (há duzentos anos atrás esta era uma ideia altamente transgressiva, reformista e moderna) a Jane Austen foi a percursora do feminismo antes de existir feminismo;

-Por fim o facto de os livros todos terem um final feliz, para finais menos felizes temos a vida e é reconfortante que na ficção se possa encontrar o oposto.

Também ao longo da minha vida fui gostando de livros diferentes da autora, aos 13 anos quando conheci os livros era uma fanática pelo orgulho e preconceito, li-o mais de 30 vezes de certeza, e com o crescer comecei a gostar mais do Persuasão, do Emma... Emma é considerado pelos críticos junto com o "Grande Gatsby" o romance perfeito, do ponto de vista de organização e vale a pena ler. A própria escritora dizia que ela era uma heroína de que ninguém gostaria mas que a própria Jane Gostava mais do que as outras. Talvez porque os livros de Jane Austen têm um fundo moralista e este nos mostra que nem tudo é preto e branco mas cheio de tonalidades de cinzento, é a única heroína de Jane Austen que podia de facto ser humana.

Já há alguns anos estive na moderação de um clube Jane Austen com algumas amigas com quem eu colaborava num blog da autora, e mais uma vez vou participar em algo assim. Fui convidada pela Biblioteca David Mourão Ferreira a organizar o clube Jane Austen que pretendem ter o qual começa já na próxima quinta-feira pelas 15h00.


Da minha experiência passada posso dizer que vai ser um prazer e uma diversão, é sempre muito bom encontrar pessoas com amores partilhados connosco, na realidade devo dizer que a Jane Austen me trouxe o conhecimento de algumas Janeites malucas pela autora como eu, que com o tempo se tornaram amizades muito reais.

Quem diz que um livro não pode mudar a vida de alguém, nunca leu o livro certo!





sexta-feira, 3 de março de 2017

"Love your curves"

Hoje saiu uma notícia no Obervador sobre uma campanha da Zara na qual colocou duas modelos magras  com o slogan "Love your curves". A Zara quis assim associar-se ao movimento de aceitação corporal mas esqueceu-se  que os slogans devem estar em consonância com as campanhas. 

A campanha acabou por ter um tom hipócrita. 

Pessoalmente e apesar de não concordar com a associação de ter curvas com ser plus size, vejo a Zara como uma marca mais dirigida a mulheres magras. Eu por exemplo não consigo encontrar na Zara calças que me sirvam há uns 20 kg atrás... A publicidade é sempre uma mentira, e de certa forma tem sempre o propósito de criar uma necessidade pela associação de um conceito que se deseja a outro conceito que está à venda. Mas acho que esta campanha falhou tão redondamente, como as curvas das modelos escolhidas.



Em relação à associação do termo ser-se curvilínea com ser-se gorda também não é do meu total agrado e aceitação. Acho que as mulheres mais curvilíneas são as de peso médio, que tenham um corpo tipo ampulheta, eu diria que o caso da Kim Kardashian ou da Nicki Minaj são certamente os mais conhecidos.  A Kate Upton, mas apenas porque tem mamas muito grandes para o corpo alto e magro.

O problema está em ser aceite sempre apenas o que está  de acordo com o modelo de aceitação vigente. Devíamos caminhar para a tolerância em vez de para novos paradigmas mas com regras igualmente estreitas. 

Muitos gordos odeiam ser chamados de gordos, preferem que lhe digam que são fortes, cheiinhos... Eu pessoalmente tenho mais problema com o dizerem-me que sou forte ou cheiinha, porque não gosto dessa necessidade que a sociedade tem em camuflar o que sou em vez de me aceitar como sou. 

Sou gorda! 

O ser gorda não faz de mim mais nada além disso, e tenho o mesmo valor como pessoa de qualquer outra pessoa, como temos todos independentemente do nosso tamanho, religião, cor, orientação sexual... Nós somos especiais porque somos únicos com todas as pequenas coisas que fazem parte de nós mesmos e somos ordinários porque no fundo toda a gente é diferente e especial. Não devemoster de nos preocupar em ser mais ou menos para encaixar em parte nenhuma, acredito que parte do nosso propósito da vida é conhecermo-nos bem a nós mesmos e aprendermos a amarmo-nos sem reservas, percebendo que amor é cuidar de nós mesmos mas não deixarmos que tudo o que consideramos menos perfeito seja um entrave a esse amor. Para a seguir podermos estender este tipo de amor e aceitação aos outros e ao mundo..

How happy I was if I could forget

  How happy I was if I could forget How happy I was if I could forget To remember how sad I am Would be an easy adversity But the recollecti...