segunda-feira, 25 de julho de 2022

De novo me hei-de levantar!

As crianças acham sempre que os adultos sabem tudo! Ainda que qualquer adulto saiba que certezas como as que teve na infância nunca terá novamente. Na infância achamos que temos ainda tanta coisa para aprender, perguntamos sem parar o porquê das coisas, temos uma curiosidade insaciável que desnorteia e cansa os que nos rodeiam, mas que mostra também um espírito esponjoso, expansivo e aberto como não voltaremos a experimentar na vida.

Na infância, sabemos quem é a nossa pessoa preferida, o nosso melhor amigo, que o rapaz que nos puxa o cabelo gosta de nós, e que a miúda que não nos deixou saltar ao elástico é má e não é nossa amiga...

Na infância não há cinzentos! Há preto ou branco! Certo ou errado! Sabemos quando somos nós que fizemos asneiras e quase sempre como as evitar... ironicamente não nos percebemos que temos mais certezas que os crescidos. A acrescentar isto os crescidos mentem muito, por isso mesmo que se pergunte o que se quer saber nunca se sabe se a resposta é de facto a verdade...

Neste mundo tão mais complexo dou-me por perdida. Sinto sempre que nasci velha, que sabia muito mais o que queria até aos 30 do que depois dos 30. 

Os 30, aquela marca imaginária na qual as pessoas no início dos 20 pensam que têm de ter a vida organizada... Pois bem chegaram e nada mudou, não me lembro da transição, mas algures no avançar dos 30 a vida veio, coisas muito boas e muito más e dei comigo a perder o chão, as certezas, e de momento mesmo o rumo.

Para outra pessoa talvez isto não fosse um problema, mas para a maniacazinha do controlo que vive em mim não saber o que faço, como faço, o que escolher, e a vida e futuro que quero ter é francamente  uma catástrofe. 

Voltei a escrever por isso; sempre me ajudou a organizar os pensamentos, ainda que francamente não tenha a certeza se será de alguma ajuda no momento em que me encontro para mim ou para alguém que leia isto. 

A única coisa de que posso servir é de exemplo para alguém que aos 37 não tem  como certo quase nada na vida.

O doutoramento atrasou, a menos de 9 meses da data final encontro-me à espera da base de dados que preciso para terminar (não está nas minhas mãos e já espero há cerca de dois anos por esta base de dados).

O meu casamento tem andado pelas ruas da amargura ao ponto de termos decidido desistir há dois meses, de momento no meio de negociações para ver o que decidiremos mesmo, é ainda uma incógnita em que caminho seguiremos e se conseguimos um futuro juntos como optimisticamente decidimos quando nos decidimos casar...

 (Um aparte, mas as únicas pessoas que vejo venerar a ideia de casamento são os meus amigos que ainda não o experimentaram, e se encontram agora na ideia de iniciar essa aventura,  parece pessimista, mas fora do facebook no sítio onde as relações são reais em vez de kodak tudo dá muito mais trabalho e parece muito mais destinado a trazer problemas do que algum dia anteviríamos).

A minha saúde anda miserável e tudo o anterior fez-me recentemente desenvolver crises de ansiedade que terei de encontrar uma forma de resolver (provavelmente psicólogo e medicação).

Aos 37 vejo a vida para a qual lutei tanto e que tanto planeei deslizar como se de um aluimento de terrenos numa enxurrada se tratasse... E qual é a solução para isto? Que certezas tenho?

Muito poucas... mas em sumário poderia dizer que tudo o que desce sobe e vice versa, o que quer dizer que no fim de tudo hei-de encontrar maneira de sobreviver a isto tudo, de sarar as feridas e de conhecer de novo a pessoa que toda esta pressão forjará. O meu novo Eu, não necessariamente melhor ou piro, só diferente... No final de mais esta grande queda de novo me hei-de levantar!




quarta-feira, 20 de julho de 2022

Asas ou raízes?

Senti hoje uma vontade renovada de escrever, não só de escrever para mim como muitas vezes escrevo mas antes com coragem de voltar a partilhar estes pensamentos negros, tortuosos, estranhos ou simplesmente idiotas que tão frequentemente me assolam e que são um pouco o fio condutor da minha escrita.

Dei-me conta que a minha última publicação foi há mais de um ano e que foi algo muito negro ao que se seguiu um período de reclusão nesse campo.
Também hoje não escrevo com o espírito mais livre possível, mas antes como se uma nuvem rodeasse os meus pensamentos turvando-os, não me deixando ver se o que escolhi está certo e que escolha fazer no futuro e mesmo no imediato.

Falar com duas amigas que se encontram também em momentos difíceis fez-me refletir sobre estas coisas, e senti este desejo de partilhar, de ouvir outros, de saber se sou só eu, ou se de alguma forma é a condição humana que se espelha no meu pensamento.

O Doutoramento é um fardo pesado nas cabeças de quase toda a gente que conheço, para mim não tem sido exceção... Mas às vezes penso se não será antes a vida. 
 Se me tivessem perguntado aos 30 se ia mudar, eu juraria a pés juntos que não, que seria eu sempre mais ou menos a mesma.

Pois passados 7 anos sinto-me tão diferente que se alguém que não me vê desde os 30 me conhecesse novamente  provavelmente fora o exterior não me reconheceria.
Sempre fui uma pessoa de raízes, do género em que a casa e o passado tem a maior importância, fui uma adolescente prematuramente idosa. Para agora me ver na meia idade a pensar mais em me tornar uma pessoa com asas. Alguém virado mais para o Futuro que para o passado.

O tempo com a sua passagem tem a magia de nos fazer ver que tudo é mutável, que o que hoje nos causa lágrimas será em alguns anos um motivo de riso, que aquilo que nos orgulha de momento será algo que em algum tempo veremos com arrependimento, a lista continua de forma exaustiva.... A verdade é que todos fazemos as nossas escolhas pelo melhor, mas nem o tempo nos diz se as escolhas que fizemos foram as mais acertadas... Num livro da Alice vieira que li há muitos anos havia uma frase a dizer que o mundo gira à volta dos "ses". E é um pouco isto. Era tão mais fácil SE os SES fossem acertos... Como SE saber SE o que SE escolhe é de facto o correcto, SE em última instância perseguindo o que queremos não perdemos o que temos. Ou SE escolhendo o seguro, as raízes não perdemos uma vida muito mais cheia plena ...

Mas mudei e pouco posso fazer em relação a isso... Sou Hoje muito mais uma pessoa com asas que  com raízes...





How happy I was if I could forget

  How happy I was if I could forget How happy I was if I could forget To remember how sad I am Would be an easy adversity But the recollecti...