quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Coragem ou burrice?

Um pouco por toda a minha vida a característica que possuo e que as pessoas  elogiam é a minha coragem.
Começou no 10º ano quando uma colega minha disse que me admirava  por usar roupas que ninguém usaria e não querer saber disso. E continuou um pouco pela minha tendência para ser um pouco uma idealista de causas perdidas, que acabam por me fazer por vezes confrontar a autoridade e conceitos estabelecidos, quando acredito que ocorrem injustiças.  No último ano as pessoas dizem-me que sou corajosa por ter deixado tudo e vindo ser estudante noutro país já entrada nos 30.

Ora se é fantástico que as pessoas admirem isto em mim, e isso me faça feliz, há dias em que não me sinto corajosa. Sinto-me estúpida. Tento sempre não pensar muito nas coisas antes de as fazer porque senão perderia a força, e acredito que quando a meio, mesmo que a força nos falte acabamos por encontrar uma saída.

Esta semana voltei para Hull, e não estou o mais capaz e equilibrada que tenho estado para a tarefa que me espera. Sinto-me depressiva, irritada com os que amo, perdida... Tenho medo de desenvolver alguma doença séria mental e por isso, procurei a equipa de conselheiros da universidade, são tipo psicólogos com quem se pode falar e que nos encaminham para serviços especializados.

 No meu caso concreto falar não é um problema, mas preciso de apoio especializado para que os meus hábitos alimentares não derrapem ainda mais. Eu como por conforto, e em alturas críticas tenho episódios de compulsão alimentar. Nos últimos meses têm piorado provavelmente devido a todo o stress que tenho tido. Por um tempo aceitei isto como estratégia de lidar com o stress do último ano, mas não é uma boa solução para mim.

Não sei se fará efeito mas a ter de começar por algum lado pareceu-me ser este o mais sensato, uma vez que todos os planos de nutricionista, inscrições no ginásio, caminhadas suplementos e tretas não resultaram. O meu corpo pede-me cuidado mas a começar pela cabeça.

Decidi falar disto, não por ser corajosa. Mas por outras duas razões, a primeira que me é mais cara é pelo estigma da doença mental, tudo o que puder fazer para o diminuir farei. A segunda razão porque a Internet está cheia de histórias felizes falsas, e isto irrita-me. Há sempre uma grande pressão para nos mostrarmos perfeitos. Mas não somos. E isso não deve ser um problema, nem uma pressão, se fossemos todos mais reais, talvez vivêssemos num mundo mais livre de problemas e influências negativas.

Em relação ao título... o tempo responderá. Se eu conseguir manter-me sã após o doutoramento então vir foi um acto de coragem, se a minha saúde for afectada por ele então certamente um de burrice. Porque nada vale a nossa saúde mental.



P.s. A foto hoje é uma selfie, porque estes problemas não se vêem na cara, e no entanto quero dar a cara por eles.






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