segunda-feira, 30 de março de 2020

Portugal de quarentena...

Nesta últimas semanas as nossas vidas foram mudadas de uma forma que parecia impossível antecipar apenas algumas semanas antes. 

Vivemos na Europa,  habituámo-nos a ouvir falar de catástrofes horríveis, de perdas de vidas, de terrorismo e guerras que matam, mutila e massacram milhares, de milhões que morrem à fome... mas apenas a muitos quilómetros de distância, como se de outro planeta se tratasse...
Comovemo-nos. Somos humanos... Mas passados dois minutos voltamos à nossa vida comum, em que muitas vezes temos uma casa confortável, uma família amorosa, segurança e saúde.

Agora é real, bateu à nossa porta também,  podemos ser os próximos e começamos a perceber o quão privilegiados temos sido.

Tenho de dizer também que não só não estou a viver no país como também não sou muito nacionalista, sou uma inconformada com as políticas nacionais e apesar e tender mais para a esquerda não me revejo integralmente em nenhum partido. Ainda assim não consigo disfarçar um grande gosto em ser portuguesa na altura das catástrofes. Porque é nestas alturas que o melhor de nós vem ao de cima, na minha opinião.

Não nos apercebemos sempre dos tesouros que temos, não somos tão bons como achamos em muitas coisas mas somos imensamente reais. 

E na catástrofe e infortúnio somos unidos como poucos outros são, somos dum tipo que toma responsabilidade e actua, detestamos seguir regras e leis no dia a dia mas somos os primeiros a condenar os que não as seguem quando isso põe em causa vidas e a situação é crítica.

Temos um calor humano que não se encontra em muitos sítios e que contrariamente a muitos sítios é real.
 Estou impressionada como o país está a gerir a situação, de forma mais rápida e eficaz que a maioria dos outros países. De forma perfeita? Não, mas não há perfeição na vida e às vezes é preciso relembrar isto. Houve humanidade a gerir esta situação, as pessoas foram postas antes da economia, os migrantes foram tomados como nossos e têm acesso ao nosso SNS, começou tudo a ser feito antes mesmo de haver mortes...

Portugal lembra-me um pouco a ideia que temos das casas pobres em que há sempre espaço para mais um e aquelas histórias do antigamente em que se dividiam as sardinhas porque não davam para todos.

Hoje a quarentena (eu sei que é distanciamento social mas gosto mais do termo quarentena) fez me ficar nostálgica e ter imensas saudades desse cantinho do mundo em que um estranho é um amigo, em que podemos falar com toda a gente, em que pessoas se cumprimentam mais facilmente, em que  beijocamos tudo o que mexe e expomos o nosso coração de humano para humano.

 Esperemos que no depois, quando tudo isto não for mais um perigo e quando não tivermos de aplicar medidas que tanto contrariam a nossa tendência natural voltemos ao nosso eu, não original mas melhor.

Talvez o melhor do português seja isso, seja o saber sentir e mostrar que sente.




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