sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Sou uma louca idealista: Doença mental e genes

Há uns dias a minha irmã convidou-me para passar com ela "um dia de irmãs"...nesse dia estávamos a falar sobre a nossa família e as coisas que nos preocupam com eles, quando ela que é acérrima nas críticas à abertura com que falo da minha vida neste blog disse-me que uma pessoa próxima que não identificou lhe tinha dito que eu era desequilibrada, por todos os assuntos que abordo aqui.

Como é certamente alguém preocupado com o meu bem estar quero só garantir que  por agora estou bem, ainda assim tendo  em conta a carga genética de doenças psiquiátricas que certamente trago nos meus genes é muito provável que ao longo da vida isto não seja assim.

 As doenças psiquiátricas são um dos meus temas de interesse e estudo fora de horas, já que de ambos os lados da minha família existem pessoas com doenças destas altamente debilitantes, e também porque o que estudei me ajudou a perceber de que forma esta doenças funcionam, enquanto empiricamente me apercebo como são devastadoras, difíceis de controlar e porque é tão errado haver o estigma que muitas vezes lhe está associado.

Já por várias vezes ouvi pessoas com educação em saúde e em posições de relevo referir-se a qualquer coisa como sendo "esquizofrénica" como se fosse um adjectivo para caracterizar qualquer coisa anormal e não só uma doença. Vindo isto de pessoas de saúde, quando o oiço deixa-me incomodada.

 A maioria das pessoas não tem noção que as doenças mentais são na realidade doenças físicas, caracterizadas por fenómenos físicos quantificáveis que acontecem no cérebro e devíamos ser nós  profissionais de saúde responsáveis por desmistificar isso.

Estas doenças além do estigma profundamente negativo, são muitas vezes relevadas como intencionais ou de importância secundária, porque além de terem etiologia multifactorial são potenciadas pelo ambiente no qual a pessoa está inserida. Não se pode contudo aplicar esta descrição também a outras doenças como por exemplo o cancro, algumas doenças neurodegenerativas, doenças cardíacas e metabólicas?

Quando oiço coisas do género não consigo deixar de pensar que devemos ser nós as pessoas de saúde  a diminuir este preconceito em vez de o potenciar, o preconceito esse sim não me parece ter origem genética, é de  difícil gestão e com comportamento claramente refractário à medicação.

Ainda assim para que percebam o impacto destas doenças fiquem a saber que de vários estudos que tenho lido me pude aperceber que muitos dos sem abrigo ficaram em situações de rua ou por dependências de substâncias químicas ou por situações de saúde mental não controladas. 

Era tão mais fácil se a nossa sociedade se tornasse uma sociedade verdadeiramente inclusiva em vez de culpabilizadora, porque aí a gestão da saúde e comunidades seria feita no sentido de abarcar e apoiar todo o tipo de doenças não no sentido de excluir todos aqueles que não cabem no molde pré-fabricado do que é socialmente aceite.

Deixo aqui um artigo particularmente acessível sobre o tema, fala em como os genes responsáveis pela nossa personalidade são de facto também os genes responsáveis pela tendência ao desenvolvimento destas doenças. Sempre se ouviu dizer que a maior parte dos génios são "doidos" talvez assim seja, talvez o ser-se "doido" seja na realidade um outro espectro de normalidade. São múltiplas as associações do autismo com capacidade geniais.



Devo ainda realçar que não escrevo este post ou outros com o objectivo de me expor a mim e à minha família, admiro-os e  adoro o facto de no global (principalmente a minha família mais próxima) serem diferentes da maioria das pessoas que conheço, acho que essa diferença me ajudou a crescer livre e a depender menos do julgamento das outras pessoas do que acontece à maioria das pessoas. São para mim sempre motivo de orgulho e nunca de embaraço.

 Aproveito ainda para esclarecer que escrevo este e a maioria dos outros posts porque escrever é para mim um processo catártico, terapêutico, um processo que me permite manter o equilíbrio (ao invés de me desequilibrar), me dá prazer e me ajuda a intervir no mundo à minha volta, desmantelando preconceitos. 

Eu acredito no poder que cada um de nós tem de fazer do mundo um sítio melhor, desde que não nos acomodemos a ser o que os outros pensaram para nós.

Afinal talvez seja louca, porque o que é mais louco do que ser sonhadora e idealista aos 32 anos no mundo de hoje??





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