quinta-feira, 9 de abril de 2020

A importância da mediocridade

As pessoas faladoras são invariavelmente vistas como menos sensatas que as pessoas mais caladas.

 Talvez por isso eu tenha desde há muito tempo a ideia que a impressão que as pessoas têm de mim quando não me conhecem de perto é que eu não fiquei a dever particularmente à inteligência. 
Tenho uma natureza calorosa, brincalhona e honesta que me separa da ideia que as pessoas têm de como as pessoas inteligentes e educadas se devem portar. 

Ainda assim sempre pensei em mim como uma pessoa inteligente e sempre que tenho dificuldades em aprender algo isso afecta grandemente a minha identidade e auto-estima, muito mais do que por exemplo o meu aspecto físico. 

 Talvez por isso é-me sempre difícil quando vejo que há qualquer tema ou disciplina que é mesmo difícil para mim. Estou habituada talvez a estudar temas e a a aprender coisas para os quais tenho uma afinidade natural ou pelo menos um gosto.

 A minha tese de Doutoramento neste sentido está a uma grande luta e tem reduzido o meu conceito de mim mesma a mínimos recorde. 

A possibilidade real de não conseguir concluir bem algo em que investi tanto esforço e sacrifício... especialmente sacrifício, tem me feito andar em baixo, devia ter investido numa área em que tivesse mais conhecimento do que aquela a que vim parar. 

Ainda assim às vezes há respostas que nos aparecem para as perguntas que não temos a coragem de fazer a nós mesmos. tenho nos últimos dias visto palestras de Malcolm Gladwell, (o autor de outliers e apologista do esforço consistente como mais importante que a genialidade)  adoro os livros dele mas como qualquer pessoa que lê um livro às vezes passado algum tempo esquecemo nos dos ensinamentos básicos. 

Numa das palestras que vi hoje ele fala como muitas vezes paciência e persistência são mais importantes que ser genial e como nos sentimos desadequados por nos compararmos com as pessoas que primariamente nos rodeiam em vez de com o global e de como isso nos pode afectar ao ponto de nos sentirmos tão incapazes que desistimos de coisas onde a persistência e a paciência nos levariam.

Isto era o que eu precisava de ouvir hoje. Eu sou das pessoas todas que conheço aqui, a que está a fazer um doutoramento mais distante da área e conhecimentos originais e também a que teve mais entraves com autorizações e atrasos na tese. Foi tudo uma combinação de problemas aos quais se soma a minha ignorância no campo da computação, a qual tenho tentado vencer nos dois últimos meses mas de forma muito deficiente.

 É difícil, mas talvez o caminho para conseguir fazer isto passe por me habituar a este sentimento de mediocridade em algo e de e ter orgulho nisso, pensar que esta mediocridade é um sinal de que estou a aprender algo novo e não de que deva desistir. Preciso de me lembrar que ninguém nasce ensinado e persistir, mesmo quando todas as células no meu corpo me dizem que não sou capaz porque sou mesmo má nisto, é o único caminho que posso contemplar. Ser teimosa nisto como sou no resto da minha vida.
A verdade é que sou má, mas tenho de pelo menos esforçar me ao máximo e tentar. Talvez nunca saia de ser má, mas não pode ser o desistir a vencer. O que digo a mim mesma é que posso falhar, mas não desistir... nunca. Eé com este  mantra  que me tem empurrado na vida nas alturas mais difíceis que conto.

Com isto no pensamento, dei comigo a pensar e lembrar-me de duas situações particulares em que isto aconteceu, uma foi na  primeira semana no meu curso eu não conseguia perceber como se dizia tecnécio, e apesar dos altos e baixo acabei por concluir a licenciatura com sucesso e de posteriormente passar 10 anos da minha vida a ensinar a novos estudantes o que o tecnécio era...

A segunda foi quando chumbei a estatística na frequência, e tive de ir a exame, os únicos exames que fiz porque chumbei e não porque decidi ir a exame foram precisamente a estatística. Mais tarde no mestrado o professor que tinha elogiou tanto a minha intuição em estatística que eu acabei por gostar imenso, aprender e aplicar em imensos projectos ao longo da vida.

Às vezes precisamos de coisas que nos relembrem que não ser bom em tudo no início é o normal, que podemos ter falta de talento e gosto em alguma coisa e ainda assim acabar a aprendê-la. Que o importante nestes casos é persistir, mesmo mal, trabalhar muito até que um dia acabe por ser o suficiente. Peço a Deus a força para persistir...

Aconselho a que assistam  o vídeo é um discurso fantástico para motivação de espíritos esmorecidos como o meu e um pouco o de todos nós nesta fase tão difícil.

Já agora Boa Páscoa!


Ponho esta foto porque foi tirada nas galerias romanas debaixo da cidade de Lisboa, ao fim de eu ter aguentado 7 horas na fila, num dos poucos dias no ano em que abre. 





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